sexta-feira, 31 de maio de 2013

CONFERÊNCIA DAS CIDADES EM UBERLÂNDIA

REFLEXÕES SOBRE A CONFERÊNCIA DAS CIDADES DE 2013 - ETAPA MUNICIPAL:
TOMO I - CIDADE COMPACTA X URBANIZAÇÃO GAFANHOTO.

Segundo o Plano de Habitação de interesse social de Uberlândia, (ver site: PLANO DE HABITAÇÃO DE UBERLÂNDIA da Secretaria de Habitação do Município, que disponibiliza o plano) em 2010, havia 72.500 lotes vagos na cidade (estimativa entre lotes vagos e gleba bruta caso fosse loteada). Assim, poderíamos locar 72.500 famílias nos respectivos lotes.
Se quatro pessoas por família poderíamos locar 290.000 pessoas na cidade.

Se colocássemos 2 famílias por lote, o que corresponde a 8 pessoas chegamos a ter 580.000 pessoas ocupando tais áreas vazias – o que levaria a um tipo de adensamento ainda passível de boa qualidade ambiental e urbana.

O padrão de urbanização em Uberlândia segue próximo ao padrão apontado pelo IBGE em outras cidades. Aproximadamente 83% de nossa população vive em área urbana (não sei dizer a proporção dos distritos).

Assim, temos uma população urbana de aproximadamente 622.500 pessoas (nossa população urbana e rural somam 750.00 pessoas).

Tínhamos em 2010 (data do plano de habitação de interesse social) a capacidade de assentar 580.000 pessoas (93% de nossa população urbana – o que é quase uma Uberlândia dentro da outra) e com folga acabaríamos com o Déficit Habitacional.

FONTE: PLHIS de Uberândia - ano de 2010.

Entretanto, a população de 01 a 03 salários mínimos tem preferido o padrão lote + casa (não só esses, mas outras classes também – ver o sucesso comercial dos condomínios horizontais fechados).

Assim, o poder público terá um desafio constante de buscar novas áreas para habitação de interesse social. Não serão áreas bem localizadas e nem tenderá a uma cidade compacta apontada pelo Estatuto da Cidade.

O resultado de tal modelo: o poder público tem que negociar áreas que a população tenha condição de pagar o lote + casa, mesmo com a ajuda de subsídios do governo.
Obviamente, tais áreas com preço acessível estão mais distantes. A pressão sobre a ampliação do perímetro urbano é resultante deste modelo de ocupação. Haverá também a exigência pela mobilidade urbana garantida principalmente pelo transporte público.

NOVAS ÁREAS FORA DO PERÍMETRO URBANO
PARA HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL
FONTE: PREFEITURA DE UBERLÂNDIA 2013


Em síntese, tarifas cada vez mais caras já que as distâncias a percorrer aumentam. A tendência com isso é gerarmos uma área específica de uma população de rendas entre 01 a 03 salários mínimos – maior déficit habitacional e foco do Plano de Habitação de Interesse Social.

O modelo de ocupação gera vítimas quase imperceptíveis – os pais preocupados somente em morar, esquecem que os filhos têm o direito de estudar, se qualificar, fazer um curso técnico ou ir para faculdade. A pressão por transporte público e aumento da tarifa é um limitador de tal desejo.

Surge também a necessidade por creches, escolas e outros equipamentos públicos – custo de construí-los e principalmente para mantê-los.

Teremos também um espaço urbano cada vez mais pobre (não pela renda, mas principalmente pela tendência à especialização) – já que ora as pessoas estarão “enclausuradas” nos condomínios fechados (sonho de morar da classe média), ora estarão gerando os conhecidos bairros dormitórios.

Pelo modelo apontado, não há a possibilidade de convivência de pessoas de diversas rendas, hábitos e classes sociais. Pode ser uma falência das cidades e dos espaços públicos?

As cidades se caracterizam por este nó de aglomeração diversificada e plural. Hoje, tendemos a uma cidade altamente zoneada e especializada – independente da vontade do poder público. Gera a impressão que o cidadão da polis é uma ameaça uns aos outros. 

E A ESPECULAÇÃO IMOBILIÁRIA?

As áreas vazias ora são fruto deste modelo ora se aproveitam dele – desta paulatina especialização e periferização da cidade. Um proprietário de uma gleba bruta, parcela inicialmente parte desta gleba para determinada classe ou para tal política habitacional. Após esta ocupação, a área restante sofre grande valorização. O proprietário volta a parcelar e em função deste novo preço mais acentuado, somente outra classe social tem condição de ocupar e/ou comprar parte destes lotes. Esta é uma das formas de especulação imobiliária. Se há pessoas dispostas a morar longe e donos de terreno que vê vantagem neste processo, onde está o problema? Em todos nós.

A pressão pela valorização da terra, a tendência à inflação pelo aumento da tarifa de ônibus, áreas de cerrado devastadas para constante expansão horizontal da cidade. Cidade grande, mas nem por isso racional e eficiente.

Por bem ou por mal, este tem sido o modelo de cidade escolhido por nós uberlandenses e reafirmado nesta Conferência Municipal das Cidades. 




FONTE: : https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjJvB2zUPREuYNRf2vprXj3WrL15o_DldcyonZxs6KjPC0PGaybsetajKms42JPezrsaBUl_6j8pUp7yi4aEElnpnJh74bWipLUNtujVDctV4RarF1e_1W4IHfWcGW3pDYdiEEY948oCIo/s1600-h/MVC-005S.JPG


PROJETO DE AFONSO REIDY
PEDREGULHO NO RIO DE JANEIRO


PROJETO DE RUY OTAKE
HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL
MINHA CASA MINHA VIDA
FONTE: http://www1.folha.uol.com.br/saopaulo/782646-obras-projetadas-por-ruy-ohtake-alteram-a-paisagem-de-heliopolis-veja-video.shtml

PROJETO DE RUY OTAKE
HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL
MINHA CASA MINHA VIDA
FONTE: http://www1.folha.uol.com.br/saopaulo/782646-obras-projetadas-por-ruy-ohtake-alteram-a-paisagem-de-heliopolis-veja-video.shtml 

quinta-feira, 30 de maio de 2013

NOVA RONDON PACHECO É POSSÍVEL?

Novamente a Rondon Pacheco virou um ribeirão. Ribeirão São Pedro. Ele está lá. Vive, pulsa e arrastar tudo que está no seu curso. 


Inundação de 2013 - em Pleno Outono.


Gosto quando dizem que a cidade não foi planejada. Mostra ainda uma fé tamanha na técnica e no planejamento. Por outro lado, isso reforça meu ceticismo. O ceticismo, garante o questionamento na nossa "religião" moderna. A técnica, o planejamento, a ciência. Claro que estes itens são importantes. Mas colocá-los na perspectiva histórica ajuda a entender que as escolhas técnicas são manifestações de uma visão de mundo. 

Também não defendo a relativização de tudo. Mas voltemos ao Ribeirão São Pedro.  Vejamos: a Rondon é resultado de uma longa prática sanitarista que via as águas dos rios como vetor de disseminação de doenças e sujeira. A solução técnica para este problema, foi o modelo de canalização de diversos rios e ribeirões que cortam os centros urbanos e até periferia. 



FOTO AÉREA DE 2005
fonte: Marques, 2013. Imagem Google Earth, 2012


FOTO AÉREA DE 2010
fonte: Marques, 2013. Imagem Google Earth, 2012


E é uma tentação ao olharmos a topografia do leito de um rio e não imaginarmos uma bela avenida. Topografia uniforme, direcionamento óbvio de fluxos e largura considerável. 

A Avenida Rondon Pacheco é fruto deste modelo. Oriunda de um plano e que virou projeto. 

É aqui que vemos que a ciência avança. E que a técnica não é estática. Ela muda com o tempo pelo simples fato de que é resultado da ciência - manifestação humana inquieta por natureza. Portanto, não existe motivo para ficar estagnada. 

Aos tecnocratas e tecnistas de plantão... culpemos a política. E claro, que a dinâmica política atualmente não ajuda (seu imediatismo eleitoreiro impede discussões mais aprofundadas do tema). 

Mas o tempo tem mostrado - e não é de hoje - que o modelo de canalização das vias é um engano. Ao que tudo indica, a técnica para alargar vias, canalizações, dimensionamentos e etc, tem a necessidade de ser revista.  

O que faremos então? 

A cidade de Uberlândia se dispõe a deixar o Ribeirão São Pedro seguir seu curso natural? Estamos dispostos a retirar o asfalto, as construções e devolver o ribeirão ao ar livre?

O discurso de que tal solução é cara não tem mais fundamento. Pelo simples fato de que o que temos gasto para corrigir e reformar já teríamos devolvido o ribeirão à natureza

Claro que isso não tem que ser feito da noite para o dia. Há de se pautar um plano de pelo menos uns dez anos para que se devolva o ribeirão a algo próximo do que era antes (exatamente como antes nunca é possível!). 

Tal transtorno ainda assim pode vir a ocorrer pois há sempre o risco de um curso d´água transbordar. O que podemos é gerenciar isso, reduzir as probabilidades das ocorrências.

Novamente: o que temos gasto corrigindo este problema já teríamos garantido o saudável retorno do Ribeirão e a radical redução deste impacto

Lembremos que quanto mais tempo levamos a assumir tal solução a Rondon vai se tornando uma nova centralidade. Copiaremos assim, o centro de Uberaba, cravado também em um fundo de vale. 

Síntese das soluções para o Ribeirão São Pedro: 

1- política de manutenção de área permeável ou poços de captação de água; 
2- legislação que incentiva o uso da água de chuva e o armazenamento de parte desta água;
3- redesenho do Ribeirão São Pedro no sentido de devolver tal curso d´água à cidade; 
3- redirecionamento da nova centralidade que vem se instaurando na Avenida;

Até a próxima inundação! 
Data de registro: 30/05/2013.